Sinapse por Gerson Costa

Outro dia fui abordado por um aluno que manifestou sua preocupação em relação aos livros. Ele queria adquirir o hábito da leitura e me perguntou como é que se faz. Disse o que digo a todos: ler e gostar é só começar. Ato continuo ele quis saber qual o meu escritor predileto. Jorge Luiz Borges foi a resposta. Ele sempre esteve à frente de todos, na minha opinião.

Uma semana mais tarde encontrei o mesmo aluno. Ele tirou da mochila um exemplar do Aleph, um livro do Borges. Disfarcei o meu constrangimento. Afinal, prestara um desserviço, mesmo que sem querer. Um livro assim não é recomendável para quem ainda não tem o hábito da leitura. É como ir ao restaurante, pedir a entrada e partir direto para a sobremesa. Não costuma dar certo.
Ler e gostar é só começar. De preferência pelo começo. Vamos ver como é que é isso.

Vou-me tomar como exemplo. Durante o segundo grau nunca fui chegado à leitura. Detestava, aliás. Meus professores de Literatura me enfiavam guela abaixo Machado de Assis, Eça de Queiroz, Mário de Andrade e José de Alencar, entre outros, Passava de ano na matéria sabe-se lá como. Uma tortura.

Quando entrei na faculdade a coisa mudou. E comecei a entender os livros. Uma mudança assim radical aconteceu graças aos meus queridos mestres. Ainda bem. Virei redator de publicidade.
Anyway. Vou recomendar algumas leituras obrigatórias para quem quer aprender a curtir os livros. Sem essa de muita erudição, tipo J. L. Borges, James Joyce, Henry James, José Saramago, Miguel Cervantes, Marcel Proust – isso fica para depois, para os já iniciados. Vamos lá então.

– Robert Stevenson: Dr. Jeckyl e Mr. Hyde, a Ilha do Tesouro e Raptado.
– Francis Scott Fitzgerald: O grande Gatsby.
– Ernst Hemingway: Paris é uma festa, Por quem os sinos dobram e O velho e o mar.
– Voltaire: A princesa da Babilônia.
– Rudyard Kippling: O livro da selva.
– Isabel Allende: A casa dos espíritos.
– Merce Rodoreda: A praça do diamante.
– Clarice Lispector: todos.
– Machadão: Dom Casmurro e todos os livros de contos.
– Gabriel Garcia Marques: Crônica de uma morte anunciada e o autobiográfico Viver para Contar.
– Mario Vargas Llosa: A guerra do fim do mundo.
– Pablo Neruda: todos os livros de poemas e o autobiográfico Confesso que vivi.
– Luiz Buñuel: Meu último suspiro.
– Fiodor Dostoievsky: Os irmãos Karamazov e Crime e castigo.
– Franz Kafka: A metamorfose – e numa segunda etapa os outros dois: O processo e O castelo.
– Tomas Mann: A montanha mágica (o desafio é o tamanho do livro, são 1.200 páginas).
– William Shakespeare: as peças Hamlet, Rei Lear e Macbetb.
– Oscar Wilde: O retrato de Dorian Gray.
– Charles Dickens: David Copperfield e Christmas tale.
– Mark Twain: As aventuras de Tom Sawyer e As aventuras de Kuckdabery Finn.
– Paramahansa Yogananda: Autobiografia de um iogue.
– Mika Vatari: Sinue, o egípcio.
– Autores desconhecidos: O livro das mil e uma noites – Pela primeira vez traduzido direto do árabe para o português. A edição da Editora Globo é um show.

Vários destes títulos são considerados, pelos aborrecidos de plantão, como livros infanto-juvenis. É a pura verdade. Mas são leitura corrente para todas as idades – até executivos de multinacionais curtem. Se você começar a se aventurar por aqui, certamente vai aprender a gostar de ler. É batata. E ainda ganhar um bônus: de repente, você vai se dar conta de que estará escrevendo muito bem.