Em meio às desnecessárias adaptações hollywoodianas de animações japonesas, muitas delas condenáveis, cada vez mais ouve-se rumores acerca do majestoso sci-fi animado, Akira. Dificilmente você nunca ouviu falar de Akira: de Kayne West, em seu clipe “Stronger” à Matrix (1999), as influências da animação japonesa são incontáveis, nunca tendo se restringindo apenas ao oriente. O sci-fi dirigido e escrito por Katsuhiro Otomo (mesmo autor do mangá no qual o filme baseou-se), além de ser uma maravilhosa tradução artística do medo pós guerra japonês, Akira pode ser considerado o mais influente marco na exportação do cinema animado oriental.

No final da terceira Guerra Mundial (que na história acontece em 1988), Tokyo fora destruída por uma colossal explosão circular no centro da metrópole. Em 2019, um ano antes das Olimpíadas na grande metrópole japonesa (coincidência?), Neo-Tokyo se ergue mais viva e extravagante. Luzes de néon, incontáveis prédios e arranha céus luminosos tomam seus lugares em um Japão reconstruído e divergente ao excesso de luzes, o cenário cyberpunk se estica pela periferia por meio dos esgotos e dutos enferrujados semelhantes à entranhas espalhadas pela parte escura da cidade. A trama gira em torno de Kaneda e Tetsuo, dois adolescentes pertencentes à um grupo de motoqueiros. Após brigarem com uma gangue rival, Tetsuo segue pilotando e se acidenta após avistar uma estranha criança na estrada. Após ser levado pelos perseguidores da criança, Tetsuo acorda com poderes telecinéticos, resultado dos testes feitos com seu corpo e mente.

Em meio à um mundo dividido, contemplado por caóticas manifestações, violenta resistência policial e uma população degradada, afundada no hedonismo, na banalização sexual e nas drogas empurradas pelo governo. A juventude do universo da animação é viciada, desinteressada e rebelde, adversa ao sistema obsoleto de ensino, regrado pela disciplina coercitiva. Kaneda descobre que o experimento no qual Tetsuo estava envolvido baseia-se na restauração dos padrões psicológicos de Akira, nome dado ao primeiro receptor desse poder divino. Akira simboliza o motor da evolução, a vida e um poder além da compreensão humana. Os humanos tentaram controlar este poder por finalidades militares e o desdobramento da animação irá metaforizar a degradação desse universo e do conflito pessoal entre os dois protagonistas. Sem papas na violência gráfica, Otomo escolhe a forma mais grotesca e perturbadora de mostrar a ruína de um mundo já condenado.

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Ao final, Akira surpreendeu o mundo com sua qualidade técnica, narrativa e artística. Nunca antes uma animação japonesa chamou tanto a atenção dos olhos ocidentais. O valor estilístico para a linguagem de animação (com um dos melhores usos de cores já feitos) e da ficção científica é imenso, essencial para qualquer fã do gênero. Se você perdeu a exibição nos Cinemarks na última quarta, poderá assistir Akira na Netflix.

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).