“Le Big Mac”, “is giving a foot rub cheating?” e “I don’t tip” são exemplos de falas clássicas de Tarantino, mestre em falar nada para falar de tudo.

Ao contrário da maioria dos roteiristas, Tarantino insere exposição em diálogos repletos de banalidades, fugindo de explicações claramente artificiais que não nos dão espaço para interpretação.

Em Bastardos Inglórios, toda a temática do filme é explorada na primeira cena. Desde o primeiro frame de LaPedite cortando madeira com um machado, até “au revoir, Shosana!”, vemos que as grandes questões do enredo incluem moralidade e violência e que ambos permeariam todo o filme.

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Um artifício que é tendência em seus filmes, utilizado também na cena da taverna em Bastardo Inglórios e em todo Os Oito Odiados, é a revelação da ameaça antes de algo de fato acontecer. É por isso que Tarantino preza pela antecipação, pelo “como” e não pelo “o que”.

Todo o diálogo entre  LaPedite e Landa é de tensão crescente. Ações violentas são encobertas de bons modos e gentileza. Landa pede um copo de leite a seu anfitrião, bebida geralmente associada a infância e inocência, mas segura o braço de sua filha, após elogiar a beleza de sua família, mostrando que aquele pedido supostamente inofensivo era tudo menos aquilo.

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Conversas banais adicionam ao suspense da cena, até que Landa faz a analogia na qual coloca judeus e alemães em forma de animais, deixando mais explícito o motivo de sua visita.

Sendo um filme de Tarantino, violência extrema é algo esperado. Quem assiste essa cena sabendo que o diretor é famoso por explosões de sangue já sabe que o diálogo é estopim para algo mais viceral e gráfico. A cena inicial de Bastardos Inglórios é um belo exemplo disso.

Quando é confirmada a suspeita de que a família que o oficial procura está na casa de LaPedite, tiros, pedaços do chão de madeira e sangue voam pelos ares e temos o descargo da tensão construída pelos últimos minutos.

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Contra-corrente da mania de exposição forçada que infelizmente reina em filmes como Passageiros (2016), Tarantino prova que é possível contar histórias através de diálogos, sem termos tudo mastigado para nós.

De grão em grão, tanto bate até que fura.