No último dia 11 a plenário da Câmara Municipal de São Paulo aprovou o PME (Plano Municipal de Educação). Depois de grande polêmica, foi excluído desta versão o termo ‘gênero”.

No debate, lidamos com o poder da palavra. Numa das tendências, favorável à adoção do termo, a questão da sexualidade e do gênero existe precocemente e a impossibilidade de falar a respeito já condena um grande número de crianças a calarem sobre suas fantasias, curiosidades, dúvidas (isto, independente do gênero). Ao disponibilizar a questão em material de estudo, aquilo que existe ainda sem palavras poderia ser expresso, trazido à luz e, ganhando voz, poderia ser canalizado, amadurecido.

Na outra tendência, a introdução do termo no universo infantil seria a imposição fora de hora de uma questão que não faria parte ainda do universo infantil e cujo questionamento provavelmente nunca deveria ser feito. Não deveria haver uma questão com relação ao gênero, apenas a obediência à determinação genética. Aqui, a introdução do termo no universo supostamente assexuado infantil configuraria um trauma, ou mais, uma sedução. Seduzir significa desviar alguém de seu caminho. Haveria- teme-se- uma ameaça à família.

Nas duas posições lidamos com o poder da palavra. Ela pode dar forma ao informe, desfazer fantasmas, educar para o convívio com a diferença; e ela pode desviar, criar uma questão onde antes não havia, corromper a natureza.

E há uma diferença com relação ao real ainda não simbolizado. Há quem considere que ele deva ser acolhido e incorporado, e há quem a tema a ponto de preferir sua repressão.

O que fazer com fantasmas, convidá-los à mesa ou exorcizá-los?

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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