Está no Brasil para participar da CryptoRave Peter Sunde, um dos fundadores do Pirate Bay, maior site de compartilhamento de arquivos via torrent do mundo, e um dos grandes ativistas do chamado “Movimento Pirata”.

Para ele, a principal função da internet, o motivo de sua existência, deixou de ser, o que levou-o à polêmica conclusão: a Internet não deu certo.

O que viria a ser a internet hoje começou em 1969 dentro do Departamento de Defesa dos EUA, sob o nome de ARPANET. A ideia era criar um sistema de informações descentralizado que fosse imune a ataques nucleares em grande escala.

Basicamente uma rede sem escalas: sua grande quantidade de pontos de conexão e a extensa rede que liga cada um desses pontos a centenas ou milhares de outros faz com que a queda de um nó isolado não comprometa o sistema. Aliás, mesmo a queda de muitos nós não comprometeria o sistema. A força da internet estava, justamente, em ser uma rede descentralizada.

Fisicamente falando, isso ocorre: a quantidade de servidores espalhados pelo mundo é gigantesca e diversa, mas a tendência é que cada vez mais as mesmas rotas sejam utilizadas para se navegar. E quase todas elas têm interesses de empresas por trás.

O Google é um exemplo disso, quanto da sua vida a empresa não sabe? Seus dados no e-mail, com quem você conversa, sobre o que você pesquisa… Aliás, quase todas as pesquisas realizadas na Internet partem do Google (e a outra grande ferramenta de busca é, curiosamente, o Youtube, também da empresa) e isso põe em cheque a tal da descentralização.

Não é só isso: há muita discussão acerca de projetos recentes do Facebook, que pretende oferecer acesso gratuito de qualquer aparelho à internet, sem a necessidade de um provedor, mas só para acessar conteúdo do próprio Facebook.

Cada vez mais grandes empresas estão fazendo a mediação entre usuários e conteúdos na rede, que passou de um ambiente democrático e livre a uma oligarquia com fins e propósitos bem definidos: lucro.

Sunde condenou também muitos movimentos de luta contra esse sistema, como o WikiLeaks (do qual é colaborador). O interessante é que não é pelo serviço em si, mas pela falta de diversidade e mais vozes que façam um trabalho parecido, porém com focos ou até mesmo ideologias diferentes. Para ele, de nada adianta ir contra o sistema quando nessa direção todos ouvem uma voz apenas, abrindo espaço para a mesma forma de opressão.

Outro ponto levantado por Sunde foi com relação aos Partidos Pirata, organizações políticas que procuram influência em diversos países europeus (temos um Partido Pirata aqui no Brasil, também). Ele diz não concordar que partidos que se focam quase que com exclusividade nas questões de liberdade de expressão e privacidade recebam votos, uma vez que o campo da política e gestão de um país passa por muitas outras áreas de maior importância, como Saúde ou Educação.

Mas uma coisa parece certa: aquele mundo em que as barreiras nacionais foram sendo borradas enquanto as grande companhias passavam a tomar conta de toda a vida dos indivíduos (como em Neuromancer, romance de William Gibson que estreou o termo Cyberpunk).

Nossa vida online parece cada vez mais fácil, mas será que isso é realmente facilidade ou é uma coisa bem mais obscura, em que apenas os caminhos mais próximos e fáceis nos são mostrados e o acesso a muito conteúdo online nos é omitido ou mesmo negado?

Se você acha que o assunto merece atenção, vale a pena dar uma assistia em alguns dos vídeos abaixo:

Minha barba. Minha vida.