Até agora, as Olimpíadas têm dado o que falar. O público reclamou sobre as obras dos estádios, que quase não foram entregues no prazo, protestou sobre a poluição dos rios e o risco para os atletas competirem naquelas águas e debateu se Temer foi ou não vaiado durante a Cerimônia de Abertura – tudo antes de os jogos realmente começarem.

Sendo assim, era de se esperar que essa edição das Olimpíadas deixasse sua marca, de uma forma ou outra. Enquanto realmente acontecerem alguns deslizes – problemas na Vila Olímpica e escândalos de doping, por exemplo – os Jogos Olímpicos de 2016 serão memoráveis por outro motivo. As Olimpíadas no Rio são os jogos da diversidade.

Em nenhum outro campeonato se incluiu tanto as minorias sociais e políticas como esse e, melhor, pela primeira vez a mídia retrata isso com tanta naturalidade e relevância, com a maioria das interações em resposta sendo positivas.

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) reconheceu a participação da Equipe Olímpica de Atletas Refugiados e agora trazem luz ao conflito da Crise dos Refugiados, inspirando todos os que estão na mesma situação. As dez pessoas foram recebidas com admiração durante abertura e agora são incentivados por pessoas do mundo todo.

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A comunidade LGBT também está recebendo mais visibilidade do que nunca. Para início de conversa, os maiores veículos de informação do país compartilharam a notícia do pedido de casamento de Marjorie Enya e Isadora Cerullo, respectivamente voluntária e jogadora de rugby da seleção brasileira, e falaram abertamente sobre os relacionamentos homoafetivos de alguns atletas do Brasil e do mundo. A Nike apoiou a causa ao lançar um comercial para a campanha “Unlimited You” com o primeiro atleta transexual da seleção dos Estados Unidos, Chris Mosier, que você pode ver abaixo.

Além da cobertura da mídia, algumas mudanças estruturais fazem das Olimpíadas no Rio marcantes: esses são os jogos com o maior número de competidores LGBT da história, pelo menos 41, entre homens e mulheres. Pela primeira vez atletas transexuais não precisam ter passado nenhuma cirurgia (atletas passaram a participar dos jogos após o processo cirúrgico em 2004). Ainda, pela primeira vez uma pessoa transexual levou a bandeira do time dos atletas brasileiros na cerimônia de Abertura; a modelo Lea T fez história e mostrou ao mundo como o preconceito já não tem mais espaço em qualquer tipo de evento.

E a mudança não está só nos jogos e na mídia. Os reflexos dessa mobilização aparecem nas redes sociais, que estão apoiando cada vez mais os times femininos e as atletas mulheres que competem por seus países. Depois dos jogos de futebol do Brasil, memes comparando as duas seleções aparecem e dão às mulheres a atenção que merecem – pode parecer óbvio, mas é um grande passo para as Olimpíadas e a causa como um todo. As Olimpíadas Rio 2016 vão deixar sua marca por mudar a forma como se tratam as questões de minorias nos esportes e na mídia como um todo.

Texto de Felipe Ritis

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