Um dos principais temas retratados na nova temporada do Demolidor é o Justiceiro e o seu embate com o Diabo de Hell’s Kitchen. O Justiceiro é um dos personagens mais questionáveis e sombrios do universo inteiro da Marvel. O ex-fuzileiro naval Frank Castle já lutou em diversas guerras no oriente médio (na série e quadrinhos mais recentes essa é a origem militar utilizada), sendo consagrado com inúmeras medalhas de honra e bravura.

Movido por sua vingança pessoal, o novo vigilante busca acabar com o crime a partir da lógica da guerra: as barbáries são justificadas por um bem maior. Para evitar que outras famílias e vidas sejam perdidas, o Justiceiro traça sua missão que envolve muitas balas e sangue. O que esse personagem traz de mais interessante à série é o debate filosófico sobre o papel do vigilantismo no combate ao crime. Assim, até mesmo o papel do próprio Demolidor é colocado em questionamento.

DDvsPunisher2Cena do quadrinho, Welcome Back, Frank (2000), primeiro confronto ideológico Demolidor x Justiceiro

Por tomar atitudes extremas, o Justiceiro permeia toda a visão maquiavélica. O que não significa ser perverso ou imoral. Aliás, é a superação da dicotomia bem e mal. Maquiavel influenciou muitos grandes pensadores, sendo leitura obrigatória para quem estuda ciências políticas.

O Príncipe, a obra mais conhecida de Maquiavel, mostra que o julgamento de uma ação não se baseia nela mesma. Não se trata de valores e crenças do sujeito da ação, mas sim de suas consequências. Uma ação “boa” pode prejudicar enquanto uma “má” pode beneficiar. O fim que ela destina será o verdadeiro critério de julgamento. Somente o tempo pode mostrar o verdadeiro valor de uma ação.

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Esse é um dos pontos que os idealistas criticam na teoria de Maquiavel, pois suas escolhas são isentas de valores a priori. É o famoso “os fins justificam os meios”. Não é o caso do Demolidor, um idealista que não permite morte em sua conduta, embora se utilize da violência física para dar “aquela ajudinha” à justiça. Essa é a linha tênue entre a moral do Demolidor e do Justiceiro: qual o limite para se alcançar o mesmo objetivo?

O problema com a moral maquiavélica é que o homem não controla o fim. Na verdade, não existe um “final” propriamente dito. Cada ação gera uma nova reação, sendo impossível ter o fim como justificativa. Mesmo com a prisão do Rei do Crime, por exemplo, mais criminosos surgiram para ocupar o seu lugar. Portanto, qual seria o fim das ações desses heróis?

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A questão filosófica colocada pela segunda temporada do Demolidor abre mais perguntas do que respostas. São diferentes morais, ambas com suas contradições e virtudes. Em determinados momentos, a diferença entre os dois caminhos são imperceptíveis. Ambos atuam fora da lei, mas o Demolidor não mata. O Justiceiro sim. E muito bem.

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Esse texto é uma colaboração entre as duas figuras mais nerds do Arenas: Eduardo Manente e Luiz Gattaz

Publicitário nerd metido a psicólogo de cachorro. Mestre em Comunicação pela ESPM e em Epic Fail pela vida.