O septuagésimo Festival de Cannes começou dia 17 de maio e termina no dia 28. O festival funciona como uma mostra de filmes que ocorre anualmente, junto a um concurso no qual um juri (agora presidido por Pedro Almodóvar) premia os melhores deles.

Desde seu início, Cannes é conhecido por ter uma audiência particularmente honesta. Filmes atualmente vistos como clássicos, como Taxi  Driver (1976) e Pulp Fiction (1994) e Bastardos Inglórios (2009), de Tarantino, por exemplo, foram vaiados no festival.

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A reação, no entanto, diz muito sobre o filme que a gerou. Uma vaia mostra que o filme afetou quem o assistiu, que algo naquela audiência foi tocado, o que é melhor do que uma recepção passiva, como o que acontece com grande parte dos filmes atuais, ainda mais na era de “sequels”, “prequels” e “reboots” na qual vivemos.

Um filme que foi vaiado nessa última temporada de Cannes, foi Okja, a primeira produção original que a Netflix exibiu no festival.

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Fora falhas técnicas do dia da reprodução do filme, a recepção foi tão forte por um debate maior: o espaço (ou falta dele) para uma plataforma de streaming em um festival tão tradicional e renomado.

Há quem argumente que a nova forma de entretenimento que a Netflix propõe também muda a forma que produz conteúdo, que para alguns é focado em telas menores e uma experiência cinematográfica que não se encaixa na mesma categoria dos antigos vencedores da Palma de Oro, como Apocalipse Now (1979), Paris, Texas (1984) e Azul é a Cor mais Quente (2013).

Outros defendem que o que Netflix propõe é uma democratização da cultura, possibilitando que obras que antigamente não sairiam do público limitado de certos festivais cheguem a uma audiência maior, o que não significa que sua produção é estritamente comercial.

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A questão em jogo portanto não é Cannes ou o streaming em si, mas a definição de “cinema”. O entretenimento muda cada vez mais e cada vez mais rápido e o ceticismo da audiência do festival é mais do que compreensível, quando inovações ameaçam o que ela têm como norma há anos.

No entanto, não é possível que Cannes e sua audiência ignorem que a tendência é de produção que a produção audiovisual por meios não tradicionais aumente ao passar do tempo. O Cinema é uma arte que pode afetar todos os tipos de pessoas de todos os jeitos possíveis e isso não pode ser negligenciado, por mais clássico que o festival seja.

De grão em grão, tanto bate até que fura.